Uma pena. Fomos muito amigos. Trabalhamos juntos na TV Iguaçu e na Teorema. Foi importante fonte de pesquisa para o meu livro 100 Anos de Criatividade. Fica a memória de um profissional extremamente dedicado. Um perfeccionista. No momento, deve estar mostrando a Deus o que Ele precisa fazer para melhorar o céu. Quem nunca viu o Renato ter um acesso de riso, perdeu um dos espetáculos mais cômicos e angustiantes da história da cidade. Acontecia principalmente nas horas em que não se devia rir. Num enterro, por exemplo. Uma vez, teve que ser retirado do funeral de um amigo judeu quando começou a gargalhar de forma incontrolável ao ver o Hiram de Hollanda usando um quipá mal equilibrado sobre os cabelos grisalhos. Desejo que ele tenha o merecido descanso. Sempre trabalhou muito. Foi o único sujeito que eu conheci que podia escrever um poema épico a respeito de um parafuso e uma chave de fenda. O Renato simplesmente esgotava tudo o que era possível fazer com qualquer equipamento, mesmo sem manual de instruções. Um fenômeno. Era impossível discutir com ele sobre os temas do seu interesse. Ele sempre tinha razão. Sabia tanto que chegava a ser irritante. Várias vezes tentou me converter à crença de que os videntes existiam. Apresentou-me alguns. O mais sábio de todos foi o Frei Miguel, da Vila Nossa Senhora da Luz. Um assombro. Foi fuzilado durante a guerra e não morreu. Fingiu que estava morto entre os cadáveres de uma vala comum. E, quando foi possível, ressuscitou. O Renato garantia que o Frei Miguel enxergava o futuro de qualquer pessoa como quem assiste a um filme. Começo, meio e fim. Deve ter visto o que ia acontecer com o Renato nesta manhã de sábado. Fico pensando sobre qual futuro ambos vão falar quando se encontrarem.
em 03/06/2023 - Curitiba
Paulo Vitola